sábado, 17 de outubro de 2015

As regras vitais do jogo de futebol

A tão discutida e por muitos mal interpretada ou jamais compreendida regra do impedimento por árbitros, dirigentes da arbitragem e das equipes, jogadores, treinadores e pessoas que fazem parta da imprensa - posição proibida ou adiantada - é uma das normas mais antigas do regulamento do futebol, que rege desde dezembro de 1863.

A partida era, nos séculos que se passaram, um entretenimento diabólico, jogo sanguinário e mortífero mais que esporte amistoso, Tal o qualificava o escritor Philip Stubbes, com o título Um jogo bárbaro, que só estimula a cólera, a inimizade, o ódio e a malícia, faz mais de quatro séculos, em outro livro intitulado Anatomia dos Abusos, publicado no ano de 1583. 

Duzentos anos depois, o futebol seguia sendo, como dizia  o rei Jacobo I da Inglaterra, "um jogo que oferece muitas mais possibilidades de provocar lesões que de fortalecer os músculos", e aconselhava a seu filho Carlos que não se apaixonara a ele (no caso do futebol). Por estes e outros motivos foi proibido em diversas épocas. Mas se praticava esporadicamente nos campos, caminhos e ruas onde o jogo indígena reinava onipotente. E cada vez que ressurgia empurrado pela força lúdica que o anima e seu subjugante espírito agonal, as autoridades tratavam de suprimi-lo castigando e impondo multas a quem ousava julgá-lo. Portanto, o jogo-de-cartas se refugiou nos pátios e porões dos colégios públicos e algumas universidades.

Muito antes que isso ocorresse, um comentarista britânico chamado Thomas Carew, no começo do século XVI, descreveu o futebol desordenado que então se praticava e disse que a lei do impedimento já existia. É a mesma que atualmente rege no jogo do rugby  e que além disso era aplicada no hurling to goals, jogo semelhante ao futebol, posto que se praticava com uma bola de couro inflada, num campo de cem metros de comprimento por vinte de largura e com postes colocados sobre a linha transversal do campo, a quatro metros de distância um do outro, sem travessão. Intervinham de 20 a 30 homens por equipe.

Proibido o futebol pelos colégios, foi-se eliminando de suas modalidades todo aquilo que significasse atentar contra o físico de quem o jugavam. Em tal sentido, tanto os diretores como os professores, os treinadores e os mesmos alunos dos colégios Eton, Harrow, West-minster e outros, junto com a Universidade de Cambridge, possuíam regras próprias que estavam embasadas e condicionadas ao espaço ou terreno que cada qual disponha.

A disparidade que existia entre tais regulamentos não impediu que o futebol fosse purificando-se. Em ditas casas de estudo se trabalhou com entusiasmo e muita ânsia, com o propósito de enobrecer esse jogo que tinha profundas raízes no coração do povo, como o testifica o fato de que apesar de ser proibido século após século subsistia entre compactos núcleos de população. Cada vez que renascia estava animado por notável e vigoroso entusiasmo. A força do espírito lúdico impulsionava aos homens para o jogo, do qual surge o prazer que todo indivíduo sente quando o pratica.



Referências:

LIMA, Teotónio. Fora o árbitro! Lisboa: Editorial Caminho, 1982.

LOZANO, Agustín Selza. Fútbol: código de sus leyes explicado e ilustrado. Buenos Aires: Paidós, 1968.

MORÁN, Pedro Escartin. Reglamento de fútbol asociación: comentarios y aclaraciones. Madrid: Pedro Pueyo, 1973.

NAZARENO, Áulio. Fundamentos de arbitragem de futebol. Porto Alegre: Sulina, 1997.

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